Materiais descartados viram arte no Museu de Limpeza Urbana de Ceilândia

Espaço possui desde estátuas feitas com objetos reaproveitados até peças antigas achadas no lixo, que contam um pouco da história aos visitantes
 No Museu de Limpeza Urbana, localizado na Usina de Reciclagem e Compostagem de Ceilândia, objetos jogados no lixo e considerados sem valor, como cédulas antigas, equipamentos do século passado e bonecos de pelúcia, viram arte para serem expostos aos visitantes.
 Criado em 1996, o espaço é coordenado pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). A ideia de ter um lugar com tais peças inusitadas surgiu do chefe da usina na época, Cícero Carlos Gomes de Lacerda, quando soube de uma iniciativa semelhante realizada em Belo Horizonte.
"Queremos mostrar que o lixo, além de ser reciclável, também pode se transformar em uma obra de arte e fazer parte da educação ambiental e cultural. Tudo pode ser reaproveitado, basta deixar a mente trabalhar", contou Lacerda, que agora administra o espaço.
Logo na entrada, é possível notar as estátuas feitas com vários materiais recicláveis, e entre as principais está o boneco Gabolixo, montado pelos próprios funcionários da casa.
Mas além do trabalho de reaproveitamento, o local guarda objetos antigos que chamam a atenção do público. Apenas este ano, 1.360 estudantes de escolas públicas e faculdades já visitaram o espaço, para descobrir a história por trás de cada material.
PEÇAS – Entre as mais de 300 peças no museu estão máquinas de costurar de 1930, um dos primeiros orelhões de fichinha, TVs antigas que funcionavam a válvula, máquinas fotográficas da década de 1970, celulares "tijolões" dos anos 1990, além de máquinas de escrever e computadores velhos.
Segundo Cicero, a recomendação para os catadores que trabalham na Usina de Ceilândia e no lixão da Estrutural é levar ao museu qualquer objeto "que seja interessante e chame a atenção".
Clássicos musicais em vinil, como o do artista Geraldo Vandré – mais conhecido pela música Pra não dizer que falei das flores, feita na época da Ditadura Militar –, são encontrados no local, que reforça a experiência de viagem no tempo proporcionada pelos objetos.
E para a surpresa dos jovens que viveram sua infância nos anos 1990, até mesmo um boneco de pelúcia do personagem Baby, do famoso seriado "A Família Dinossauro", foi encontrado na Usina de Reciclagem de Ceilândia e guardado no museu.
"Cada uma dessas peças antigas se torna uma espécie de resgate da memória das pessoas. As crianças podem olhar para elas e lembrar o que seus pais e avós usavam e gostavam", comentou Lacerda.

 
DOAÇÕES – Apesar de praticamente tudo ter sido tirado dos lixos, algumas peças importantes da exposição foram conseguidas por doações, como por exemplo, o piano antigo original do Rio de Janeiro.

 
"A dona dele ligou para nós pensando em jogar fora, mas dissemos que queríamos, e então pedimos para os funcionários do SLU buscarem", lembrou o coordenador do museu.

 
O instrumento ganhou lugar de destaque, próximo à entrada do museu, mesmo com algumas teclas quebradas e amareladas pelo tempo.

 
AMPLIAÇÃO – Como a Usina de Incineração foi desativada em Ceilândia por estar em uma Área de Proteção Ambiental, a ideia de Cicero é ampliar o Museu de Limpeza Urbana, ao utilizar a estrutura antiga dessa usina.

 
"Pensamos em discutir com os responsáveis sobre usarmos a estrutura do local para o museu. Ainda aguardamos a chance de falar com a Secretaria de Cultura para estudar se é melhor levar os materiais que já estão aqui para lá ou colocar só os novos que recebemos", explicou Lacerda.

 
Nas segundas-feiras, aproximadamente 600 toneladas de materiais descartados são levados à Usina de Reciclagem e Compostagem para serem separados, onde parte é revendida, e o que for aproveitado, utilizado para o museu.

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